Essência Humana foi o tema da manhã de palestras no CONGREGARH 2023 nesta quinta-feira (23)

Segundo dia de congresso abordou desde autoconhecimento a economia

 

A manhã do segundo dia de congresso do CONGREGARH 2023 contou com Jey Ribeiro, responsável por conectar os conteúdos do evento, apresentando para o público um panorama da tarde do primeiro dia e seguiu com mais cinco palestras, que abordaram assuntos do eixo de conhecimento “Essência Humana”. O evento acontece até amanhã (23), no Centro de Eventos da PUCRS. 

 

O eixo “Essência Humana” ofereceu ao público uma oportunidade de reflexão e questionamentos sobre valorização do ser humano como ativo nas organizações, além de um panorama econômico e seus impactos. Enxergar o que acontece com os funcionários para além das fronteiras das empresas, sustentabilidade humana, neurociência nas relações, times que funcionam e economias foram os temas das palestras ministradas por especialistas e profissionais das temáticas. 

 

O cuidado além das fronteiras da empresa

O superintendente do SESI-RS, Juliano Colombo, incentivou a reflexão do público em torno do que acontece fora do ambiente de trabalho. “A grande pauta de saúde hoje, nas empresas, estão voltadas para questões legais. Mas os empresários precisam valorizar o que acontece fora das paredes da organização. E aí vem o desafio de fazer com que os gestores deem o verdadeiro valor a isso”, enfatiza. 

 

Segundo Colombo, diversas questões que afetam diretamente a eficiência do funcionário estão ligadas a informações pessoais como idade e condições financeiras. “São pontos que estão sendo vistos cada vez mais nas estatísticas. As doenças crônicas, que não dependem apenas do trabalho, mas sim, da qualidade de vida, impactam diretamente no trabalho daquele indivíduo”, explicou, reforçando que o mundo passa por uma crise de cuidados e vários pontos contribuem para tal problema. Juliano ainda ressaltou a importância do profissional de RH receber a assistência necessária, bem como seus líderes, além de enfatizar que uma das soluções está na flexibilização do trabalho, e não no Home Office. 

 

A forma como os planos de saúde estão trabalhando tal questão foi outro ponto trazido pelo executivo. “Os planos de saúde ainda estão estruturados para o tratamento da doença. É preciso uma estruturação para que eles possam auxiliar em tais questões”, falou, afirmando que, além de iniciativas voltadas para os jovens, também é preciso um olhar atento para os profissionais com mais de 40 anos. 

 

A ESG, tão abordada nas palestras do congresso do CONGREGARH 2023, também foi citada por Colombo como um ponto positivo, uma vez que as instituições financeiras estão vinculando a disponibilidade de crédito com empresas que estão pautadas no tema. “E isso é uma boa oportunidade para trabalharmos cada vez mais a valorização da saúde nas organizações. Essa questão não está só no ‘S’ da sigla, mas também no ‘E’, porque impacta diretamente na eficiência da organização perante o mercado”, disse, finalizando: “Criem condições para que as pessoas possam fazer o que é necessário, mas levando em consideração a realidade das mesmas antes de estruturar qualquer projeto dentro da empresa.”

 

Sustentabilidade e bem-estar: qual a  relação?

Dando seguimento, a CEO da Bee Touch, Ana Carolina Peuker, abordou a sustentabilidade além daquela que está sendo debatida. “Não vivemos apenas uma crise pandêmica. Houve uma crise humanitária. O bem-estar foi profundamente afetado”, afirmou. Para ela, a grande questão está na forma como as empresas lidam com o bem-estar dos indivíduos, que ainda estão sendo tratados como máquinas. “Com todas as mudanças, é como se a gente tivesse que ter um cérebro maior para dar conta de toda a carga cognitiva.”

 

De acordo com Ana, há alguns riscos emergentes, como a hiperconectividade e a cultura “always on”, que faz com que o ser humano esteja sempre disponível. “Nos preocupamos com os cuidados com uma máquina, mas não estamos atentos à manutenção das pessoas”, disse, lembrando que os gestores desejam que o time esteja engajado, mas não levam em conta os mais diversos contextos, além de não investirem no bem-estar dos colaboradores.

 

A executiva, que é Membro do comitê consultivo Movimento #MenteEmFocoMembro, do Pacto Global da ONU no Brasil, ainda falou da evolução dos programas de bem-estar nas organizações, que eram voltados para o fisiológicos, e hoje se expandiram para o que se chama de ergonomia holística, que analisa o todo de um indivíduo, como as condições mentais, espirituais e emocionais. Além disso, afirmou que esta é uma pauta inserida na Agenda 2030, assim como a missão ESG. “O ‘S’, de Social, está relacionado com o que tem na marmita do nosso funcionário. Isso é olhar dentro das nossas empresas”, aconselhou, relembrando que há uma crise de energia humana. “O futuro do trabalho depende dessa energia humana renovável. E a solução para isso é entender como esses funcionários estão sendo afetados. Não adianta investir em tecnologia e inovação sem investir no cuidado das pessoas. Está na hora de cuidarmos do nosso ecossistema de gente.”

 

Neurociência nas relações

Para debater sobre a importância das relações e como ela afeta a vida humana desde a infância, o psiquiatra, neurocientista e cofundador da plataforma Cingulo, Diogo Lara, apresentou uma palestra leve e cheia de temas sensíveis e necessários. Para ele, o ser humano é essencialmente interdependente e tem em suas conexões significativas e no seu propósito pontos que trazem vontade de viver. “A partir daí, realizamos todas as ações”, disse.

 

De acordo com Lara, o sentimento de pertencimento verdadeiro só vai acontecer se a pessoa tiver a oportunidade de ser ela mesma. “Se a pessoa consegue ser inteira, ela vai estar mais engajada”, falou. Além disso, o especialista afirmou que grande parte das doenças são causadas por estresse ao longo da vida. “E os maiores estressores são as pessoas. Nós somos os estressores uns dos outros”, ressaltou.

 

Outro ponto trazido para reflexão foi o impacto da relação materna e como o ser humano é dependente das relações humanas. “Vivemos em uma desconexão. E essa desconexão gera consumo, que gera mais desconexão. A nossa sociedade é muito boa em cultivar que não somos suficientes”, afirmou. Segundo o neurocientista, o autoconhecimento seria o melhor caminho para as mudanças humanas necessárias. “O autoconhecimento nos auxiliará a nos colocar menos em enrascadas. Muitas vezes os nossos estressores somos nós mesmos”, disse. 

 

Ao final, Lara convidou o público para um momento de conexão pessoal, por meio de uma meditação coletiva.

 

Times que funcionam

Já o psicólogo, escritor, palestrante e treinador, Lucas Freire, trouxe para debate o trabalhar com leveza e como isso pode influenciar na qualidade das entregas de um profissional. De acordo com ele, é preciso que as empresas levem em consideração a revolução do play. “São atividades prazerosas que nos permitem explorar, criar e experimentar de maneiras únicas”, explicou. 

 

Essa revolução, de acordo com Freire, atua na saúde mental e emocional, nas habilidades sociais, na criatividade e inovação, no autoconhecimento e auto expressão, na segurança psicológica, no bem-estar e resiliência, no desenvolvimento cognitivo e na saúde física. “Temos que nos maravilhar mais. O momento de maravilhar-se é um dos momentos mais oportunos para a criatividade. Maravilhar-se é desacelerar a vida e criar profundas conexões ”, afirmou, lembrando que o Play deve ser diverso, pois quando é único, se torna obsessivo.

 

Para ele, o Play auxilia as pessoas a viverem em um momento de flow, onde se encontram ludicidade, tensão criativa e resiliência estóica (racionalizar o processo e fazer o que for possível). “Os momentos de prazer são importantes para impulsionar a criatividade da equipe”, disse, lembrando que dar conta de tudo é impossível, sendo que o foco deve ser naquilo que pode ser controlado. 

 

“Adapte a dinâmica para o momento de time. Crie experiências para que as pessoas se conectem, incentive conflitos, crie estratégias que façam as pessoas debater. Seja uma experiência de transformação. Vamos parar de punir a leveza. Equipes que vivem no play, são equipes que podem sonhar”, finalizou Freire.

 

O que esperar da economia a partir de agora

Para encerrar as palestras da manhã, o economista chefe do Banco BV, Roberto Padovani, deu um panorama e reforçou o que estaria no centro das discussões no momento. De acordo com ele, não haveria crise econômica, mas sim, uma grande desaceleração no mundo. “Isso acontecerá porque temos um tema fundamental do mercado de trabalho em foco: a falta de mão de obra”, revelou. “O aumento de negócio e a mão de obra qualificada são imprescindíveis para que essa desaceleração cause menos impacto. Há um apagão de mão de obra no mundo”, disse, afirmando que a temática está no centro do debate econômico mundial.

 

O economista explicou que quando há uma desaceleração, o olhar deve se voltar menos para a receita e mais para a própria empresa em si. “A rotatividade ainda é um grande problema. Tem que se criar ambiente de trabalho que permita que o funcionário queira permanecer na organização”, reforçou. Padovani apresentou dados da inflação de diversos países e como as mesmas oscilaram ao decorrer da história, além de dar um panorama econômico do mundo e explicar como a inflação impacta em diversos aspectos da vida das pessoas. “Apesar da baixa da inflação, hoje o problema está sendo o que chamam de inflação de serviços. A população tem dinheiro, mas os valores de restaurantes e hotéis, por exemplo, estão altos. A inflação atinge todos os públicos porque se gasta mesmo”, explicou.

 

A procura por profissionais, o aumento dos gastos públicos e o Brasil como grande exportador de soja e milho também foram temas trazidos pelo executivo para ampliar a visão econômica do público. “Não tem crise à frente, mas um mercado mais apertado e difícil. E nesse mercado sobressai a eficiência produtiva. Tem que olhar para a empresa. E um dos problemas centrais é a gestão de pessoas. Tem que focar na redução de rotatividade, com talentos querendo ficar na empresa. Tem que ficar atento na gestão e no gargalo econômico atual: a falta de mão de obra”, finalizou.

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