Os impactos da economia e da colaboração na vida das pessoas foram destaques de palestras no primeiro dia de CONGREGARH 2023

Evento, considerado um dos principais encontros de Gestão e Pessoas do Brasil, acontece até sexta-feira (23), no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre

 

O CONGREGARH 2023, na tarde desta quarta-feira, 21, seguiu a programação com conteúdo e muitas reflexões no palco principal do evento, e algumas delas foram abordadas por meio de histórias de superação. A forma semelhante de encarar as adversidades da vida foi ponto comum nas palestras sobre economia e colaboração, mostrando que as conexões existem até mesmo em áreas distintas.

 

“Muitos dos problemas das empresas está ligado aos problemas financeiros de seus colaboradores”, alertou a economista Dirlene Silva

Dirlene Silva aprendeu desde muito cedo que tudo, de alguma forma, tem relação com a economia. Reconhecida como Top Voices pelo LinkedIn por engajar as pessoas na rede a partir de assuntos que compartilha, a economista foi a primeira a palestrar na tarde desta quarta-feira, 21, com a palestra “Desmistificando a economia”, no palco principal do CONGREGARH 2023. Para um auditório lotado, contou que as dificuldades que passou na vida provaram a ela que, ao contrário do que muitos defendem, a economia não é uma ciência exata. “Economia tem a ver com cultura, política e sociedade. É a ciência da realidade social”, explicou.

 

Para desmistificar o tema considerado complicado por muitas pessoas, Dirlene contou sobre sua história de vida. O gosto pelo estudo, segundo ela, é algo que vem de criança, época que trouxe também algumas marcas negativas, como o preconceito racial e social. No entanto, foi também dos tempos de escola que aprendeu, por meio de livros de autoajuda, a importância de não baixar a cabeça para as injustiças e dificuldades. “Quando passei a consumir livros de psicologia, entendi que o autoconhecimento é a mãe do conhecimento. Ao sabermos do nosso valor e mostrarmos isso aos outros, passamos a ser protagonistas da nossa vida e vemos que poucas coisas e pessoas nos abalam”, refletiu.

 

Enquanto trabalhava em empresas, ao longo de trinta anos, Dirlene passou a analisar os números sob outro ponto de vista. “Sempre gostei de conversar com os colegas e, assim, comecei a entender que muitos dos problemas que existiam relacionados à queda de produtividade e mudança de comportamento tinham origem em problemas financeiros”, comentou. Ao identificar esse padrão, Dirlene teve a ideia de lançar um programa para quem quisesse ajuda nas áreas jurídica e financeira. Mais do que isso, sugeriu, ainda, que as organizações passassem a abordar mais o assunto, com o objetivo de educar financeiramente seus colaboradores e ajudá-los a evitar o endividamento.

 

Atualmente, Dirlene é empreendedora e reproduz a ideia para demais empresas. “É importante entender, primeiramente, que os resultados do negócio são atingidos pelas pessoas. Problemas financeiros impactam demais na saúde mental e na qualidade de vida dos colaboradores, e são eles que devem estar no centro das estratégias”, concluiu.

 

“Não adianta fazermos coisas para as pessoas. Precisamos construir a perspectiva de fazer junto com elas”, defende o líder comunitário Hermes Sousa

Mais uma história de superação, de quem aprendeu a encarar as dificuldades com determinação, foi contada por Hermes Sousa, fundador de diversos empreendimentos sociais e comunitários, em sua palestra na tarde desta quarta-feira, 21. O “pulagrota”, como se define devido ao seu linguajar adquirido em diversas regiões e culturas do país, o cearense falou sobre como o tema de sua palestra, “Colaboração”, está presente tanto na sua vida pessoal, nos caminhos em que percorreu, como também nos projetos que lidera hoje, do Instituto Cacimba de Responsabilidade Social.

 

Filho de pai negro e mãe ruiva, Hermes contou que também sofreu preconceito na comunidade em que morava quando criança, por sua condição de filho adotivo e por ter sido criado por mais de um homem com quem sua mãe se relacionou. Ainda assim, reconhece que veio ao mundo para quebrar paradigmas. Desde cedo, sabia do seu valor e se enxergava como um bom “escutador” de histórias. “Sempre usei a metodologia do copo vazio, que é chegar nos lugares e escutar o que as pessoas falam”, disse. 

 

Hermes contou que se mudou ainda jovem para São Paulo, onde, além de escutar as pessoas, passou a viver em meio à criminalidade, com o que acabou se envolvendo. Dessa época, traz memórias daquilo que chama hoje de “lugares de aprendizado”. “Fiquei por dez anos viciado em craque, contraí HIV, fui para duas cadeias por tráfico de drogas e por assalto a banco. Eu sabia que, saindo de lá, muito dificilmente conseguiria um emprego, mas sempre entendi que a educação é algo que nasce na gente em terras diferentes”, ressaltou. Por meio de toda a educação naturalmente adquirida durante essa trajetória conturbada que começou a empreender, ainda enquanto presidiário. Nas duas cadeias, montou oficinas de artes, e ali ficou ainda mais evidente o quanto a colaboração é algo que move vidas.

 

Hermes falou, ainda, sobre como esse tema muda a vida das pessoas nos projetos em que lidera, os quais envolvem cerca de 800 jovens e idosos. “Entendo que precisamos tornar as favelas participantes. Não adianta fazermos coisas para os favelados, criar expectativa nas pessoas. Precisamos construir a perspectiva de fazer junto com elas. Projetos de cima para baixo não se sustentam”, defendeu. 

 

Por fim, o líder comunitário deixou a mensagem de que é preciso regenerar a confiança e acreditar nas pessoas. “Para começarmos um projeto, precisamos, antes que o dinheiro, da boa vontade das nossas relações, e isso só adquirimos com confiança. Eu sou um improvável, ninguém confiaria em mim. Mas vale a pena investir nos improváveis”, destacou.

 

Conexões reais e humanas devem ser priorizadas antes das tecnológicas, defende a consultora Príscilla Duarte

Os efeitos da hipermodernidade, em que as conexões tecnológicas tornaram-se parte quase que natural na vida das pessoas, foram comentados pela terceira palestrante da tarde desta quarta-feira, 21, no CONGREGARH. Príscilla Duarte, consultora empresarial na BTA – Betania Tanure Associados, realizou a apresentação do tema “Conexões tech: laços frágeis, conexões touch: nós fortes”. “Estamos vivendo uma era de paradoxos, de dilemas e ambiguidades incontroláveis, e a questão é sabermos como operar nesse contexto”, provocou.

 

A mineira trouxe uma análise da linha do tempo com o antes, o durante e o depois da pandemia, mostrando como fomos acelerados e desacelerados muito rapidamente. “Entramos no looping da hiper aceleração, em que as distâncias físicas aumentaram e que, ao mesmo tempo, comprimimos a percepção de espaço versus tempo. Antes, o que ainda era dividido em vida pessoal e profissional se tornou uma coisa só, e muitas pessoas não estão sabendo lidar com isso”, ponderou. 

 

Nos pontos preocupantes provocados por esse ritmo de mudanças aceleradas e de intensa presença da tecnologia estão, segundo ela, o que chama de autismo social. “A reinserção nos convívios sociais foi e está sendo muito difícil para muitos, jovens e velhos. Esse fenômeno gera uma anomalia nas convivências, com o endurecimento da empatia e a falta de relações”, explicou, alertando para como essa característica pode ser prejudicial nas empresas onde é preciso fortalecer a cultura.

 

Também com o pós-pandemia, segundo ela, veio uma maior tendência de avaliar necessidades pessoais e profissionais. A partir disso, instalaram-se diferentes modelos de trabalho. Sobre o assunto, Príscilla comentou que cada empresa deve fazer uma avaliação individual, analisando a essência e os rituais de gestão existentes. “O melhor modelo é o que for melhor para o resultado da sua organização somado à satisfação das pessoas. E para chegar nisso, é preciso observar quais os clusters existentes e de que forma se comporta cada grupo”, aconselhou.

 

Por fim, Príscilla alertou para o papel dos líderes nas organizações. “O líder modela a cultura. Se a sua organização estiver perdendo força em algum lugar, fique atento à urgência do que está subjetivo e trace ações para fortalecer as relações”, finalizou.

 

“Felicidade tem muito mais a ver com escolhas. Precisamos cultivar hábitos positivos”, destaca palestrante Renata Rivetti

Para Renata Rivetti, diretora da Reconect Happinnes at Work, são muitos os caminhos possíveis para a felicidade imperar, mesmo diante de tantas adversidades existentes. A palestrante mostrou que o fator decisivo para isso é a forma como cada pessoa conduz sua própria vida. “O ser humano foi programado para sobreviver às ameaças e é por isso que estamos aqui. Mas, em pleno 2023, será que não devemos construir uma vida mais proativa do que reativa?”, questionou.

 

palestra de tema “Podemos ser felizes neste mundo desafiador?”, Renata falou que o ser humano tem a tendência de ver o viés negativo das coisas, a prestar atenção no que é ruim. O fator genético, justificado por muitas pessoas como motivo de infelicidade e depressão, é, conforme Renata, apenas um dos aspectos a ser considerado na busca pela felicidade. Existem, também, as circunstâncias externas e a opção de escolher diariamente realizar ações positivas, conhecida por psicologia positiva. “Precisamos cultivar hábitos positivos, construir uma jornada prazerosa e gratificante, que resulte em coisas boas para nós e para os outros”, pontuou. 

 

Renata salientou, ainda, que a felicidade não é encontrada nos bens materiais ou em um cargo, por exemplo, e que tem muito mais a ver com escolhas. “Não há fórmula mágica. Quando entendemos os caminhos de uma vida mais feliz, vemos que é algo individual, subjetivo. Depende de autorresponsabilidade, autoconhecimento, disciplina, de buscarmos atividades que nos desafiem, com metas, sonhos, objetivos. E, principalmente, de sabermos encontrar a felicidade no aqui e no agora”, destacou.

 

“A somatória de microações e micromudanças é o que torna a empresa mais inovadora”, alegou Andrea Iorio

Para fechar a tarde de palestras, um tema bastante presente nas organizações que desejam se manter competitivas no mercado foi abordado por Andrea Iorio, professor, escritor e ex-diretor do Tinder e da L’Oréal. “O que impulsiona a inovação?” foi o título da apresentação realizada pelo palestrante, que trouxe analogias e reflexões importantes acerca do papel das lideranças junto aos times.

 

Para Andrea, é o líder quem fomenta a inovação nas empresas e, apesar de ser o principal impulsionador da mudança, ele deve adotar sempre uma postura de principiante e não de expert. “É preciso ter em mente que todo processo de inovação envolve aprendizados”, disse. Segundo o professor, quando o líder se coloca em uma posição de aprendiz junto com a equipe, ele deve entender que haverá uma sequência de erros, naturais de empresas inovadoras. “São os erros que vão nos permitir aprender coisas novas e, cada vez mais, chegar mais próximo dos acertos”, argumentou.

 

Diante desse cenário, Andrea considera que empresas que fomentam a mudança e que possuem lideranças e pessoas engajadas serão constantemente comparadas. “Vivemos em um mundo digital, em que todo mundo tem experiências marcantes a todo o tempo. Isso faz com que as pessoas comecem a se perguntar sobre as práticas da empresa, a comparar com o que está lá fora.” Por esse motivo, tanto colaboradores quanto clientes ganham mais poder, pois eles acabam pressionando o negócio a inovar. “Está muito fácil ser trocado por outro que entregue o mesmo serviço ou produto de forma mais rápida e melhor. Portanto, devemos entender que será com a somatória de microações e micromudanças que conseguiremos tornar a nossa empresa mais inovadora”, defendeu.

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